A morte de José Wilker para mim.

Eu acho impressionante como a vida pode ser efêmera. Muitas pessoas já falaram sobre isso e muito melhor do que eu, mas o que mais mexe comigo é que normalmente as pessoas falam do assunto como se fosse algo distante, apenas relatando o espanto sobre a morte de alguém que era inesperada.
Não, que a minha reflexão também não parta de uma morte inesperada, porém é a direção que essa reflexão vai tomar, que se torna diferente das demais.
É surpreendente que nós, os seremos humanos, possamos deixar a vida material de modo rápido e inusitado, sem que nem mesmo nós esperemos. Podemos estar andando, nadando, velejando, lendo, bebendo, comendo, amando e de repente... acontece: morremos.
Triste, esquisito, sacanagem da vida, brincadeira de mau gosto, sei lá como denominar essa ação ou reação. Como disse, sei lá!
            O fato é que, nem sempre estamos preparados para partir, assim, de repente. No caso do José Wilker, por exemplo, ator, diretor e crítico de profissão, morreu deixando um monte de projetos em aberto, outros finalizados, outros ainda em estudo para serem realizados. Enfim, o sujeito morreu de infarto fulminante, não deu tempo de fazer nada, simplesmente se foi e deixou a cena da vida sem despedidas e sem questões, foi-se apenas e pronto, ponto final.
            Eu era admiradora do trabalho dele, gostava das coisas que falava e dos trabalhos que apresentava sempre com qualidade. Como normalmente mortes me abalam e me deixam muito reflexiva comecei a pensar em mim.
            Não estou com nenhum pressentimento mórbido e nem estou impressionada, louca tendo um surto, nada disso. Apenas comecei a pensar em mim no seguinte sentido: “como eu já fiz coisas até agora”, “o que já fiz e realizei foram coisas importantes para mim e me deram muito prazer”, “se eu morresse agora, as pessoas com as quais eu convivo, tanto no sentido particular, quanto profissional sentiriam falta de mim?”, eu sentiria com certeza, mas e elas?, “o que seria feito dos meus livros e dos meus CDs, DVDs, dos objetos que tenho tanto apego e que, na verdade, não servem pra nada?”
            Comecei a pensar mesmo no quanto ainda sou apegada às coisas materiais e que, de fato, não servem para nada mesmo, porque não as levarei de forma nenhuma, que são perecíveis, têm prazo de validade, são passageiras, que não fazem falta nenhuma, porque não fazem parte dos tesouros que levarei comigo para onde eu for. Comecei a dimensionar isso de forma realmente racional e substancial, ou seja, comecei mesmo a pensar que viver é bem mais que possuir.
            E, de repente, me dei conta, que tenho um monte de coisas inúteis: relógios, sapatos, bolsas mil, bijuterias que não uso há séculos, roupas que não me servem mais, mas eu insisto em achar que vou usar de novo, ou aquelas que ainda servem, mas eu não uso mais e nem assim me desfaço delas, lembranças de viagens que apenas ocupam espaços e nem dou a mínima importância depois, coleções de objetos que sinceramente, começaram a perder o objetivo e a função de tê-las, etc, etc, etc.
            E percebi ainda, de que eu estou enchendo minha vida de coisas e mais coisas, enchendo minhas estantes e armários de objetos, os quais eu podria facilmente viver sem.
            Foi aí, que eu notei, que apesar de todas as falas e depoimentos emocionados e bonitos sobre a morte do homem culto, popular, famoso, inteligente, que foi o José Wilker, ele não levou a coleção interminável de relógios que tinha, os inúmeros óculos que usava, um para cada ocasião, roupa, etc., os tênis coloridos e divertidos que faziam dele o coroa mais descolado que já encontrei na face da terra.
Não! Não mesmo!
            O que ele levou com ele foi uma vida rica de experiências e vivências mil fora e dentro das cenas de TV, filmes ou palcos de teatro, o que ele realmente levou com ele foram os filmes assistidos, os livros lidos, as viagens feitas, as conversas com inúmeros amigos que tinha dentro e fora do meio profissional, dos bares que freqüentou, dos restaurantes que comeu, das mulheres que teve e dos amores que viveu. O que ele levou com ele para o infinito foi à aquisição de sabedoria ao longo de uma existência, que ao que parece, foi bem vivida, no sentido lato da palavra. Por isso, eu aprendo com a vida e sempre reflito com a morte.

            Eis o que quero fazer, quero viver assim. Como ele mesmo disse em uma entrevista em 2012 para o canal Globo News no programa Starte: “eu quero ser como os grandes artistas – e citou vários – para poder viver no paraíso que eles viveram e criaram para poder nos oferecer...”, eu digo hoje, que quero ser como José Wilker foi : cheio de vida, mas de vida boa!
                Quero viver com qualidade, dando vazão aos meus desejos e curtindo a vida de forma mais saudável, que eu possa fazer minhas obrigações com leveza, que eu pinte mais, escreva mais, toque mais, dance mais, ame mais e sorria mais, que eu veja mais  o por do sol, que eu vá mais a praia, a montanha, que eu coma chocolate sem culpa, que eu beba mais vinho, que eu saiba entender que, por ser passageira, não preciso fazer tudo e nem ter tudo, porque tudo não posso ter, mas posso, sem dúvida, ter pedaços de paraíso, que me façam feliz!
                  

Deixo as imagens do por do sol, porque sempre foi inspirador para mim

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