Procurando sentidos

            Às vezes, nós, seres humanos ditos como normais nos sentimos ocos por dentro. Não porque não temos sentimentos profundos ou porque nos falta algum tipo de sentimento mais elaborado em relação aos outros de nossa espécie ou aos outros seres que coabitam conosco – cães, gatos, cavalos, peixes em aquários, plantas, etc. – não, não é isso!
            É um sentimento que nos arrebata o peito e, de repente, percebemos que estamos um tanto vazios.
            Vazios de amor sincero, de amizades verdadeiras, de parentes honestos, de colegas de trabalho que nos querem, de fato, bem. Vazios nesse sentido.
            A sociedade nos esvazia de sentimentos e com isso, eu me faço um questionamento, que a meu ver, é crucial: aonde tudo isso nos levará?
            Já houve, obviamente, pessoas muito mais eloqüentes e quiçá mais importantes que eu, que fizeram esse questionamento quanto ao rumo do Homem na sociedade moderna.
            Não sou e nem tenho a pretensão de ser alguém, que se equipare em importância seja no âmbito intelectual, seja naquele da filosofia, mas o que eu não quero é ver o tempo passar diante dos meus olhos, assim como ver a vida se arrastar, como se fosse algo absolutamente normal – o que é claro que não o é!
            O que eu me recuso e, por isso, me questiono, é chegar aos quarenta anos, correndo feito louca, querendo dar conta dos anseios alheios, suprir as carências alheias, quando na verdade, as minhas próprias estão em segundo plano, querendo dar conta de mil e umas atividades, porque em algum momento ficou estabelecido que é preciso ter, ter e ter cada vez mais, para tentar ser, pelo menos, percebido por alguém com quem você convive.
            Essas pessoas deixaram de ser chamadas de conhecidas, amigas ou colegas, passaram a ser conexões, como se nós fôssemos fios ou tomadas para sermos conectados a algum ponto de eletricidade ou energia. Aliás, em alguns momentos da vida é preciso que sejamos ligados em energia mesmo para dar conta de tantas coisas, tantas contas que temos que pagar e nem sabemos porque as fizemos, tantos trabalhos que temos e nem sabemos o porquê precisamos deles, as muitas responsabilidades que assumimos e quem nem sabemos se somos capazes de dar conta.
            Cheguei à conclusão conversando com uma amiga querida, que o consumismo é para preencher as lacunas que temos, enquanto seres que precisam de atenção, de carinho, de convivência e, sobretudo, de diálogo.
            E quem tem tempo para dialogar por 10 minutos apenas, enquanto toma um cafezinho no meio da tarde?
            Quem em sã consciência senta e almoça sem pensar e se estressar com todas as coisas que se tem que fazer após o almoço?
            Quem pode se dar ao luxo de efetivamente parar de trabalhar as 18h e, de fato, descansar a mente e o corpo com algo que seja saudável e produtivo?
            O bombardeio é intenso e incessante. Bombardeio de informações que não param, bombardeio de felicidade falsa nas redes sociais, que fazem com que você, que passa por algum transtorno, se sinta completamente idiota e anormal por não estar “tão feliz” como os demais. A partir daí, o próximo pensamento é: "sou uma merda mesmo, porque afinal de contas, todos sorriem, todos são filosóficos, com frases inteligentes e sacadas perfeitas, todos estão ótimos e somente eu estou pensando em coisas tão inúteis como o sentido da vida e o que é chegar aos quarenta anos".
            Haverá aqueles que vão dizer: “Você está em crise por causa da idade, porque está ficando velha, porque está sem marido, sem filho, sem amantes, porque está ficando gorda ou porque simplesmente está ficando grisalha.” Dirão qualquer coisa nesse sentido, sem sequer saber se ao menos eu estou mesmo feliz na condição de não ser casada, mãe ou não ter amantes, de graças a Deus estar ficando grisalha, porque somente quem morreu jovem demais é que não ficará.
           Então, o que mais importa nesse momento crucial é que eu não estou nem aí para a opinião alheia; todavia, estou mesmo interessada em descobrir se a vida começa aos 40.
            Porque se começar mesmo, uma coisa é certa: eu quero ser melhor do que fui e do que estou. Prestem atenção no verbo ser, eu não disse ter, eu disse ser. E olha que nesse exato momento, não estou sendo filosófica, estou sendo realista mesmo.
            Quero ser melhor, mais tranqüila, mais saudável, mais calma nas ações e não correr tanto, eu quero ser mais ponderada e ver graça naquilo que tem realmente . Eu quero escolher minhas amizades pelo prazer que elas me dão e não porque quero ser vista e preencher meus dias ou noites. Eu quero ser mais egoísta e pensar mais em mim, nos meus sentimentos, nos meus desejos e menos em agradar aos outros. Eu quero olhar para as coisas com calma e sabedoria o suficiente para discernir aquilo que me interessa ou não. Eu quero poder olhar para trás e não me arrepender do que fiz e nem do que não fiz, porque o passado já foi e o que eu quero é apenas não errar tanto.
            O que eu quero na verdade é ser feliz como qualquer ser humano normal, mas o que eu não quero é ter uma felicidade vazia, que passa em simples e pequenos 10 minutos. Eu quero, de fato, é aquela felicidade que perdura em você e se reflete em todo o seu semblante, porque sem motivos aparentes, você anda pelas ruas com sorriso estampado no rosto e simplesmente sente que viver é bem mais do que estar viva.

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