Los Dias de Lluvio

            Assisti um filme na TVE – televisão espanhola – chamado Los Dias de Lluvio. Quando comecei a assisti-lo não esperava nada demais, nenhum tipo de surpresa ou sequer uma aventura inesperada.
            Mas me surpreendi completamente, quando o enredo era mais rico e interessante que eu supunha. É a história de uma madre superiora, que ajuda aos pobres e enfermos com deficiência mental em um hospital no interior da Espanha, em uma vila pobre e tacanha. Eis que a madre – interpretada pela brilhante Fanny Ardant – pede ajuda ao homem mais rico da cidade, um viúvo influente. Entretanto, com o tempo, o homem amargo vai se deixando levar pelas idéias contagiantes de amor e de abnegação da madre e aos poucos começa a se apaixonar por ela.
            Apesar de seus esforços serem repudiados a princípio pela madre com o passar do tempo ela começa a corresponder ao homem e acaba por se apaixonar também.
            Os dois vivem um caso tórrido de amor, no qual algumas poucas pessoas percebem e sabem o que está acontecendo. Por fim, em meio a muitas decepções, tentativas e buscas e, até mesmo revoluções sociais, a madre consegue o dinheiro que necessita para avançar com seus projetos e o Sr. Carlos, o homem rico e viúvo, acaba por ir embora da cidade por não querer mais viver escondido o grande amor que sentia, assim como não queria destruir a vida da madre que ele tanto amava.
            Ela sofre a vida toda com essa perda e a falta de coragem de assumir quem era e o que de fato queria: viver com aquele homem pelo resto da sua vida, mas ela infelizmente aceitou e persistiu com o seu destino: continuar sendo a madre superiora, responsável por tantas outras pessoas, que necessitavam de sua força e coragem.
            Os anos passam e a madre já uma senhora idosa vai visitar um dos seus inúmeros hospitais, criados durante toda a sua vida, em uma pequena cidade, que com o passar dos anos havia se transformado muito. A mesma vila do passado, onde ela havia vivido momentos de intensa felicidade, hoje se apresentava como uma pequena cidade promissora.
            O filme me emocionou, me fez pensar em várias questões da vida humana e, sobretudo, nas minhas questões pessoais. Eu comecei a pensar, então, no por que nós sempre adiamos as coisas mais importantes, o porquê de nós insistirmos em não resolver aquelas questões particulares, às vezes até secretas, que poucas pessoas têm conhecimento, ou melhor, ninguém sabe, nem mesmo o travesseiro, porque até para ele, nós somos capazes de omitir certos sentimentos!
            Fiquei refletindo em porque deixamos de viver aquilo que queremos em prol de algo que é externo a nossa vontade? Porque a motivação de ser feliz, mesmo que momentaneamente é um fator que exige tanto do ser humano? Porque esperamos que a motivação se der feliz seja algo externo?
             O que quero dizer é que, na verdade, quem nos sabota não é a vida, não são os outros, não é o destino, nem alguma divindade perversa e, sim, nós mesmos, que na maioria das vezes nos deixamos cair nas armadilhas fáceis do deixar para depois, somente quando eu tiver o emprego perfeito, o dinheiro suficiente, a certeza absoluta disso ou daquilo – como se fosse possível termos a certeza absoluta de algo.
            Enfim, vendo o filme, comecei a perceber o quanto deixamos de viver as experiências que a vida nos proporciona, o quanto lutamos para ocupar lugares que as outras pessoas querem que nós assumamos, mas que não são os lugares que escolhemos para ficar.
            É óbvio que temos nossas responsabilidades e que devemos levar adiante os projetos, de fato, cruciais para nós e para os demais, que temos que ter no mínimo uma visão social da vida, porque sem ela tudo perde o sentido e se torna uma imensa confusão. E talvez não seja isso que está acontecendo: uma imensa confusão social?
            E que por causa desse turbilhão de pessoas com seus sentimentos confusos e mal resolvidos, acabam por influenciar uns aos outros nas relações humanas?
            A minha fala final nessa reflexão advém da fala de outra pessoa: “eu não bato mais palmas para maluco!”, ao expressar sua revolta em relação à posição que as pessoas assumem, como vítimas e na eterna tentativa de jamais se responsabilizar pelos seus próprios atos, colocando os outros como vilões da história.
            A frase soou a princípio muito engraçada e naquele momento eu ri muito, mas depois pensando com calma, tomando um longo e demorado café, e observando as pessoas passarem na rua, percebi que a frase tinha um sentido bem mais amplo que engraçada. De fato, nós batemos palmas para maluco o tempo inteiro durante a vida, porque somente um louco pensa que pode intervir na vida do outro, sem que este sinta as conseqüências dessa atitude. Mas o pior da minha conclusão, foi perceber que mais louco ainda é aquele que deixa e finge que nada está acontecendo em prol da boa e velha convivência social.
Os caminhos da vida são muitos, mas somente você pode saber qual é o melhor!

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